25 de março de 2008

Vira o disco e toca o mesmo...

Já que estamos numa de filmes, e que grande essa obra chamada Pulp Fiction, no meu top 5 sem dúvida…top 3? Talvez. Melhor filme? não sei, mas anda perto.

Michael Clayton. Nomeado para 9 Óscares creio, este filme desilude. Desilude em termos de história argumento. Nada de novo. A grande empresa que com investimentos de milhões, acarreta sempre um prejuízo para alguém, ou então o seu novo produto tem algum ínfimo defeito que de todas as formas tenta ser escondido é algo que já por inúmeras vezes foi explorado nos filmes de Hollywood.

Se a isso juntarmos a clássica cena de um escritório de advogados, que não olha aos meios como paga as rendas e os salários, então a lista de filmes que já abordaram o tema começa a ser gigantesca. Mais, o estereótipo da entidade que está lá sempre, pronta para fazer o trabalho sujo é algo que já andamos fartos de ver.

Não digo que um filme tenha de primar pela originalidade, porque não tem. Só que neste caso são demasiados elementos já super utilizados que quando acumulados não resultam. E não resultam pois já todos sabíamos Tom Wilkinson iria acabar por morrer, e que a empresa iria ser apanhada. Então essa cena quando Clooney consegue a confissão de Tilda Swinton, alegando uma mentira quando ao mesmo tempo grava com o telemóvel, ou então está em linha com a polícia….Isso sim é um clássico, talvez não com o telemóvel, sinais dos tempos modernos, mas com um gravador escondido…Hum?

Salva-se a representação. Clooney está muito bem no meu entender e o resto da maioria das representações estão a muito bom nível, também não se percebe como se justifica o Oscar para Tilda Swinton mas…passa, Agora é sempre bom ver Sidney Pollack representar, sempre com a sua classe. É pena que o enredo não lhes permita brilhar um pouco mais. Esta luta entre David e Golias, muito melhor conseguida por exemplo em Erin Brokovich, não faz deste filme algo que nunca se tenha visto, nem chega a ser algo que valha a pena ver num domingo á tarde. No meu entender nem aí chega. Quanto aos actores podemos vê-los em filmes muitos melhores que Michael Clayton.

Percebe-se que não tenha ganho o Óscar para melhor filme, não se percebe é que tenha sido nomeado.

24 de março de 2008

Pedaço de arte

- Goddamn, that's a pretty
fuckin' good milk shake.

- Told you.

- I don't know
if it was worth $5.00...
but it was pretty fucking good.
...........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

- Don't you hate that?

- Hate what?

- Uncomfortable silences...
Why do we feel
it's necessary to yak about bullshit in order to be comfortable?

- I don't know,
but it's a good question.

- That's when you know you've
found somebody really special.
When you can just
shut the fuck up for a minute and comfortably share a silence...


Uma cena daquelas...
De um dos filmes a quem o estatuto de "masterpiece" assenta na perefeição -Pulp Fiction (mesmo para quem não gosta muito de Tarantino)
Devia ser crime ter passado mais de 4 anos sem rever este filme. rs

20 de março de 2008

O Sonho americano



Sempre fui educado a ser aberto, sem preconceito nem ideias fixas, a pensar por mim mesmo e a aceitar também as opiniões dos outros... Mas há coisas que me custam a perceber.

Os EUA, e a sua cultura são das que mais me causam espanto e perplexidade (e talvez por isso, ás vezes algum fascínio também...)

Como é possível que um presidente que lança duas guerras injustas e sangrentas, e que no caso do Iraque fracassaram a vários níveis (como o de encontrar as tais bombas atómicas rs), que comanda o país aquando dos escândalos (que continuam) de Abu-Grahib e Guantanamo, com imagens que são capazes de fazer até o mais insensível dos homens chorar e ter vergonha de pertencer ao dito mundo ocidental do qual os EUA são (cada vez menos) o modelo; que com a sua "obsessão bélica" e políticas terríveis levou os EUA e o mundo, por arrastamento, a uma das maiores crises financeiras que há memória (e vamos ver onde irá acabar...) que conduz a um esperado défice orçamental histórico no país, que afastou ainda mais os EUA do mundo ao não ratificar o protocolo de Quioto entre imensos outros feitos notáveis...
Dizia eu, como pode este homem manter-se (com alguma tranquilidade) no poder, no mesmo país onde ainda há 10 anos caiu o carmo e a trindade quando Bill Clinton assumiu a sua infidelidade e deixou toda a gente revoltada, ou ainda a semana passada, o governador de NY, Eliot Spitzer teve de renunciar após o escândalo gerado por dormir com uma prostituta???????????????????

O que é que aqui não faz sentido???? Porque razão eu não compreendo esta forma de pensar???
Não estando minimamente a querer defender Clinton nem Spitzer, que tiveram um comportamento indiscutivelmente reprovável, é naturalmente incrédulo e confuso que me encontro perante esta situação absurda/contradição... Mas será que o que estes dois homens fizeram é mais censurável, mais grave para o país do que as 1001 gaffes de Bush? Mas será que a sua vida familiar e privada diz mais sobre a sua competência e sobre as suas próprias políticas do que... as suas próprias políticas (no caso de Bush)?
Parece-me bem que não...
Mas então, como se explica isto?
(aceita-se todo o tipo de respostas...Este Blog É uma democracia.)




Já agora, quem quiser fazer um bom teste sobre orientações políticas tá aqui (em inglês)






Eu fiz agora e deu isto, vale o que vale... Mas é sempre engraçado fazer e ver o resultados; eu não me consigo cingir a uma ideologia, muito menos naquela célebre dicotomia "direita-esquerda". Sei lá... Sou um pouco dos dois. Era tão redutor pensar que sou só de um assim de forma rígida e estrita.
Aquele ponto sou eu...




19 de março de 2008

A Causa das Coisas


O post de hoje tem tudo o a ver com o meu útimo post e também com o último d' "O Desalinhado"... Porque é sobre um livro, esse livro é do grande Miguel Esteves Bardoso, fala de Portugal e por fim, porque o texto que vou deixar para "aguçar" a curiosidade fala de leitura e de portugueses. Enfim, tudo isso tem tudo a ver com os dois posts que antecedem este...


"A Causa das Coisas" de Miguel Esteves Cardoso, um dos livros da lista aí do lado, é acima de tudo um livro de humor; mas é também um enorme e profundo exercício de análise e crítica sobre o nosso país e as pessoas que o fazem... Mas tudo feito com muita inteligência, perspicácia, imaginação e o grande sentido de humor que muito poucos além do MEC têm neste país mas também, apesar de tudo, sem pretensões ou grandes arrogâncias.

E apesar dos seus já longos 21 anos, é um livro com uma actualidade e pertinência impressionantes.


O livro consiste em pequenas crónicas publicadas no inicio/meados da década de 80 no Expresso pelo autor e que partem das mais variadas coisas, palavras, expressões, tiques, defeitos etç que caracterizam bem o nosso povo e o estado (então, como agora...) da nossa sociedade, numa mistura mordaz de humor e crítica social. Alguns dos títulos paradigmáticos são "Alcatifas", "Arranjar", "Campismo", "Carinho", "Chatice", "Corrupção", "Couves", "Emigrantes", "É-o-que-é", "Indecisos", "Já agora", "Mecânicos", "Merda", "Neura", "Palitos", "Piropo", "Portugas", "Pressa", "Público", "Só sei"...


Ao ouvir isto percebe-se porque razão Miguel Esteves Cardoso é um dos mais irónicos e cómicos, mas atentos, escritores portugueses. Ao ler o livro percebemos porque razão é, a nível interno, uma grande referência, modelo e fonte de inspiração para a vaga refrescante de "novos" humoristas que têm surgido no nosso país nos últimos anos!!!!!!!! Muito respeito.


Eu ando a lê-lo há meses, vagarosamente, uma crónica aqui, outra ali... Já li outros livros entretanto; este vou lendo, disfrutando com prazer e vagar e só assim tem sentido; goza-se melhor o livro se for lido "a espaços" (expressão, a propósito, muito portuguesa...) como aliás o próprio MEC recomenda no prefácio : "Dito isto é necessário recordar que os artigos foram redigidos para serem lidos um de cada vez, com descanso intervalar de seis dias. Lê-los de corrida é, sinceramente, insuportável. Não é por modéstia, mas para me defender do cansaço alheio alheio, quye recomendo que sejam lidos levemente."


E deixo-vos uma das crónicas que gostei, chama-se "Ler":



“Ler

De todo o tempo que perdem os portugueses, não há eternidade como o tempo que perdem a não-ler. Durante o Verão, o país enche-se de turistas estrangeiros e quase todos – seja na praia, seja no hotel - andam quase permanentemente com um livro na mão. Esta estranha proclividade deixa o português perplexo: «Estes bifes são todos malucos – pagam um balúrdio para cá virem e depois, em vez de aproveitarem, passam o tempo todo a ler… Até usam o livro aberto para marcar os lugares!»
É o facto cultural mais assustador de todos – os portugueses não lêem livros. Em nenhum outro país da Europa é tão raro ver alguém a ler um livro em público. Causa genuína aflição vê-los a não-ler. Na praia, nas salas de espera, nos comboios, enquanto almoçam sozinhos, nos cafés… em toda a parte se vê uma população atarefadamente dedicada à actividade de não-ler. Porque é que não aproveitam estes tempos mortos?
Não se sabe. Uma das causas será o facto do português ter horror à solidão. Esteja onde estiver, e por muito entediada que seja a sua condição, o português prefere estar a olhar para os outros – os tais que, por sua vez (em vez de estarem a ler), estão a olhar para ele.
O Português tem medo de se mergulhar num livro porque isso significa deixar de “estar à coca”. Não pode estar em lado nenhum sem sentir que está de serviço, a controlar a situação. Olha os que entram, os que saem; os que ficam, os que voam e fazem “Bzzzz…”. Nem é só por bisbilhotice – é por desconfiança. Não pegam num livro porque têm medo de apanhar com uma paulada nas costas enquanto estão distraídos. Para um português, ler é estar desprevenido.
Os preconceitos contra a leitura são terríveis. Entre o povo diz-se que faz mal à digestão ler a seguir ao almoço ou ao jantar. A obsessão dos portugueses com a digestão merecia, só por si, uma crónica. Na TV, na campanha do “Há mar e mar”, aconselham um mínimo de três horas! E julga-se que passam essas três ridículas horas a ler?
Os contos de Bruxa não acabam aí! Existe também a noção grosseira de que ler «cansa a vista» porque «faz mal puxar muito pela cabeça». O típico brutamontes defende-se destas acusações dizendo que «ando a trabalhar todo o dia e, quando chego a casa, é para descansar, não é para ler». A realidade é triste mas tem de ser revelada: o português prefere cansar-se a trabalhar (e lembremo-nos que tem a capacidade singular de cansar-se muito a trabalhar pouco) ao descanso que seria ele ler (…)”

É isto… Este livro “nasceu” no mesmo mês e mesmo ano que eu; desde então muito mudou neste país!!! Mas terá mudado assim tanto?
Deixo mais dois excertos de crónicas:

“Arranjar
Em Portugal, como todos sabem, é muito raro conseguir seja o que for. Em contrapartida tudo se arranja. O arranjar hoje é a versão portuguesa do conseguir. É verdade que “Quem espera sempre alcança”, mas como ninguém está para esperar, em vez de alcançar o que se quer, arranja-se outra coisa qualquer.
No fundo é talvez por não se terem as coisas que elas se têm de arranjar. Não se tem tempo, mas arranja-se. Já não há bilhetes, mas conhece-se alguém que os arranja. Ninguém tem dinheiro mas vai-se arranjando para o tabaco.
O próprio sistema político, económico, cultural, social estimula uma atitude para com o cidadão que se traduz pela expressão ”arranjem-se como puderem”. E o cidadão lá se vai arranjando. O mais das vezes este apelo constante ao improviso, à cunha e ao desenrascanço leva aos piores resultados. A continuar assim, o país está bem arranjado (…)”


“Já agora
Há uma instituição portuguesa que é única no mundo inteiro. É o “já agora”. Noutras culturas, tratar-se-ia de um pleonasmo. Na nossa, faz parte do pasmo.
O “Já agora” e a variante popular “Já que estás com a mão na massa…”, significam a forma particularmente portuguesa do desejo. Os portugueses não gostam de dizer que querem as coisas. Entre nós o querer é considerado uma violência. Por isso, quando se chega a um café, diz-se que se queria uma bica, e nunca que se quer uma bica. Se alguém oferece, também, uma aguardente, diz-se “Já agora…”. Tudo se passa no pretérito, no condicional, na coincidência (…)”

Espero que com estes exemplos fiquem interessados em ler mais… "A Causa das Coisas", Miguel Esteves Cardoso.

Eu recomendo vivamente, mas com moderação!!!! :P

Hasta

17 de março de 2008

O regresso dos que não voltaram

Em primeiro lugar, desculpa a todos por esta ausência mas a vinda de amigos aqui fazer uma visita à capital europeia, não me permitiu tempo algum junto ao computador.

Desculpas – já diziam os grandes defensores, e muitas vezes abusadores de tradições académicas – não se pedem, evitam-se. Ora logo aqui depara-se me um problema. Sendo certo que já não a posso evitar, pois o “mal” está feito, será que não tenho direito a desculpa? Pois devo evitar fazê-lo, e isso ainda está no meu controle, ou por outro lado significará que quando se erra não se deverá pedir desculpa? Ou então só se deverá pedir desculpa de não se ter podido evitar o acto erróneo? Mas aí voltámos ao problema inicial pois acabámos de pedir outro tipo de desculpa.

As desculpas pedem-se, devem-se pedir, quando não podendo ser evitadas.


Mas o que me trás aqui hoje é primeira crónica “Livro do Momento”. E como vocês se têm portado bem e eu muito mal vou tentar fazer uma espécie de 2 em 1, visto desde que tive esta ideia já me posiciono na leitura do 3º livro.

Uma família inglesa – Júlio Dinis
Bem, este é um livro que dá logo vontade de recuar um século, século e meio, para conhecer um Porto que me parece muito mais atractivo que o actual. A um portuense como eu, este livro é capaz de dizer mais um bocadinho do que às gentes de outros lugares, já que os nomes das ruas que ficam se opõem às descrições dos locais, muito dos quais já não existem, pelo menos na configuração dada por Júlio Dinis.

Tendo sido nos últimos 4 anos, antes da sua morte que escreveu as suas obras mais importantes, este escritor consegue em “Uma família inglesa” demonstrar sentimentos experimentados pelo ser humano de uma forma tão simples, tão real e por isso tão genial.

Não esperem um grande enredo, e não o é, diz-nos o próprio autor no início do livro. É apenas a descrição do dos dias de uma família britânica no dia-a-dia portuense. Muito interessante. Aconselho vivamente a quem goste de ler por ler, pela beleza da escrita, pela leveza da descrição pelo ganho de cultura e não só porque existe esta ou aquela labiríntica intriga. Porque não há e disso somos avisados, mas ao ler “Uma família inglesa”, não nos importamos.

“Era Cecília; adivinhou Carlos que era, ela antes de a reconhecer. Com a aparição ficou mortificado e contente; outra vez o mesmo fenómeno paradoxal.
Apressou logo os passos e tomou uns ares de homem atarefado, como se quisesse dar a entender que a sua passagem por ali era puramente casual ou motivada por negócio urgente.”

Autor português, numa altura em que nós, os portugueses atravessamos uma crise de identidade, é a este tipo de laços que nos temos de agarrar, pois continuamos a ter coisas de que nos podemos orgulhar.

Júlio Dinis morreu novo, 31 anos com tuberculose, doença que atingiu toda a sua família. Hoje tivemos Figo e Jorge Sampaio em Londres a fazer campanha contra esta doença.

Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas há coisas que temos e devemos enaltecer.



O atentado – Yasmina Khadra
Bem confesso, que quando peguei neste livro foi com o intuito de perceber um pouco mais do contexto da guerra entre Israel e Palestina. Saí desiludido. Se calhar parti com uma ideia errada sobre o que iria encontrar. Quando abordamos um livro desta maneira corremos sempre um risco.

O contexto historico, raramente é mencionado, alguns lugares são explicitados, mas não explicados. No entanto é nos tentada dar alguma das motivações de ambos os lados para se comportarem da forma que vemos todos os dias nos jornais e televisão. Consegue em parte.

O Atentado, tem utilidade de nos fazer tentar perceber como é que pessoas que vivem vidas teoricamente normais são no entanto as primeiras a ser parte de uma rede terrorista. Como é possíveis maridos não saberem das vidas paralelas das mulheres e perderem-se irmãos e irmãs para uma guerra onde, a meu ver ao longo do livro vai perdendo toda a sua lógica, que se calhar jamais teve. Isso é bem explicado.

Andamos num círculo onde começamos em morte e acabámos enterrados. Pessoas morrem nada se avança, nada faz sentido, mas não para elas, para quem morre para quem está na luta tudo tem mais senso que para nós que acompanhamos de lado, não estamos lá, não vivemos, criticamos mas não estamos lá. Não vivemos naquele mundo. Não há verdades imaculadas, mas sinto que fica alguma coisa por dizer. Não ficará sempre nas guerras?
Sente-se a desilusão do autor, e quanto a mim é essa a beleza do livro. No entanto não é um livro que eu ache indispensável, mas lê-se muito bem e descreve uma realidade que não é a minha, e que por muitas vezes fica infelizmente esquecida.

“Vasculho a fundo as lembranças, em busca de um pormenor susceptível de tranquilizar a minha alma; não encontro nada de probante. Entre nós tecia-se o perfeito amor – nem uma só nota falsa parecia perturbar as serenatas que o saudavam. Não precisávamos de falar, dizíamo-nos um ao outro, como proclama o contador de abençoados idílios. Se ela gemia por vezes, julgava ouvi-la cantar, pois não podia suspeitar que estivesse na periferia da minha felicidade quando a encarnava completamente. Só uma vez falara em morrer.”

Leiam para se lembrarem.

14 de março de 2008

De volta à casa (mal?) amada - Leiam Sff!!!

E aqui estou, de volta a Portugal.

Chegou talvez a hora de abordar um assunto que há meses me atormenta, assim um "poucochinho"...

Após uma semana longe, o sufoco (sincero) diário de viver neste país torna-se naturalmente ainda mais duro. Apetece-me fugir, apetece-me não parar aqui, avançar para coisas maiores... Amo tanto o meu país e por outro lado, depois, "apunhalo-o" pelas costas desta forma, não consigo explicar tamanha confusão de sentimentos. Sinto-me decepcionado, preocupo-me com o rumo que tomamos, na verdade, tudo parece pior de dia para dia, tudo se agrava, ás vezes sinto-me tão loonge de ti Portugal... E no entanto, não posso deixar de te amar como uma (pátria) mãe.

Talvez o problema também esteja em mim. Talvez não consiga suportar a ideia de passar a vida aqui, preso e parado, embrutrecido por um país entregue à incompetência e à ignorância. Não... Isso seria demasiado doloroso. E eu sou demasiado inadaptável e insatisfeito para encarar isso. Sou daqui, mas não pertenço aqui... não pertenço a nada, a ninguém, de resto nem a mim... Talvez ao Mundo!!!

A relativa indefinição em que o meu futuro, por razões que pouco ou nada posso fazer, se encontra; aliado a algumas coisas mal feitas e que afectaram imenso o curso também ajuda à decepção geral. Tirar um curso de Direito para concluir que este país "Não é nada justo" é deveras frustrante meus amigos... Se tiverem só 21 anos, ainda mais estranho é.

Mas o que queria hoje dizer nem tem a ver com isso... è certo que me zango, me chateio e me farto imensas vezes deste país e de algumas pessoas. É também certo que "nós", portugueses, não gostamos "deles", portugueses...

Quero dizer; eu acho, e ninguém me convence do contrário, que os portugueses não gostam muito de si. E a prova é que todos os portugueses pensam num "português típico" que acredita estar nos antípodas da sua própria pessoa...
Mas vamos por partes, em 1º lugar o retrato-robô (não concordo necessariamente com tudo o que vou escrever mas também não discordo rs) Ora "O Portuga" será aquele sujeito de bigode, fato treino desportivo, peúga branca a beber o seu tintol na Amareleja a meio da tarde com 40 graus à sombra enquanto literalmente dizima uns enchidos e ouve um faduncho (que o português não gosta de fado senhores, mas de faduncho) ou lê o desportivo da semana passada agarrado ao rádio portátil com o comentário da bola; a companhia da numerosa família, o Renault5 vermelho de 87 com leitor de cassetes(mas só do Quim Barreiros) e o sotaque francês também não podem faltar entre várias outras cvoisas que a artrite nos dedos não me permite dactilografar agora...
Psicológicamente, o estereótipo do português, que nós próprios construímos à força para nosso deleite e desgraça, é em geral pessimista, brigão, pouco cultivado (algo "bronco" mesmo), cinzentão, mole, simples ("campónio" ou "provinciano" para os mais agressivos), é vagamente racista e homofóbico e provoca a risota, a indignação e o desprezo entre as altas esferas dos mais evoluídos círculos intectuais deste reino aos quais, paradoxalmentre, 90% dos portugueses acreditam pertencer...

O que é que não bate certo? É que se formos a ver, todos os portugueses, todos nós, nos rimos desta imagem, mas não nos apercebemos que é de nós que rimos e não dos "outros"... Ou será que acreditam que há por aí perdido num sítio isolado um português que seja e que diga deste meu "retrato": Sim senhor, muito engraçado, é a minha cara!!!"?
Não!!!! Ele mais depressa dirá "Ahah!! Bem apanhado!!!Os portugueses são mesmo assim..." mas ele não!!! ele não se inclui jamais nessa raça parodiada: "os portugueses".
Por isso, não me restam dúvidas: Quando nós próprios criamos uma imagem que julgamos real, de nós, para depois concluirmos que absolutamente ninguém admite encaixar nessa "imagem" a conclusão é uma de duas: Ou "nós não gostamos de nós" ou "Nós não somos portugueses"!!!!!!
E assim ficamos, com uma triste imagem do nosso povo em que nenhum dos 10000000 de portugueses julga encaixar, mas que perdura e é para sempre a imagem que guardaremos quando abrimos todos os dias o jornal e lemos "Portugueses estão cada vez mais pobres."
Será possível viver assim, nesta salada esquizófrénica???

O português afastou-se de si... A imagem que temos de nós tornou-se tão vazia e depreciativa que muito poucos creio eu, se reveêm nela. A consequência é que talvez assim pouco a pouco deixemos de nos sentir portugueses, deixemos de acreditar que realmente pertencemos a uma sociedade, cujo estereótipo nos é tão estranho, hostil e desagradável. E assim progressivamente, passamos a sentir-nos estranhos perante nós próprios e ficamos confusos; ou pelo menos aqueles que ainda têm esperança, coragem e uma boa dúzia de neurónios diligentes e em perfeitas condições após o contacto com a estupidez desta situação.

E por isso digo, sabendo de antemão que meio mundo me "cairá em cima", que não me sinto totalmente integrado neste país, mas antes no mundo... E depois perguntarão escandalizados: Então não amas o teu país?
Mas é claro que sim!!!!
Complicado de explicar... E ainda mais difícil de entender, suponho eu.

E depois há a política... Que coisa nauseabunda e horrível. Nem vale a pena falar disso; mas a propósito, que tal esta graçola (ou nem isso) que "se me veio à pouco":
Sócrates é como a lixívia, na televisão funciona bem, mas na realidade deixa muitas manchas... É ou não é digna de vencer o "Portuga de latão" na área da piada fácil em Março?

Mas desculpem, não quero parecer triste com isto... (E depois de uma piada tão seca já não pareço rsrs) A felicidade é um enorme mosaico de infinitas cores. Uma delas é a tristeza/preocupação e serve para fazer o "contraste"; também é parte essencial para o conjunto resultar. É... feliz, felizmente... Mas nem por isso deixo de ter também as minhas angústias. Contudo, sem grandes razões de queixa. Quer dizer, tirando talvez uma dorzita no tornozelo derivado a um buraco na rua de Cedofeita em frente ao café do Sr. Inácio. E, reparei agora, uma leve dor de cabeça... E pontadas... E suores frios... E ser hipocondríaco. rsrsrsrsrs

A propósito do que falei, tenho de lembrar aqui que há 1001 portuguese que admiro muito (além dos meus amigos claro, refiro-me aqui especificamente a personalidades)
Como não posso dizer todos, hoje vou especialmente homenagear um grande senhor, daqueles que nos fazem muita falta neste cantinho... O humor em Portugal está a crescer, a chegar a cada vez mais pessoas, a espalhar boa disposição e gargalhadas. Isso é mesmo óptimo, deixa-me nas nuvens aperceber-me disso.

Não posso deixar de manifestar a minha grande admiração, respeito e agradecimento, por exemplo, (e pois são o meu "top5") a:
Miguel Esteves Cardoso,
Ricardo Araújo Pereira,
Nuno Markl,
Bruno Nogueira
Fernando Alvim

Estes cinco senhores, dotados de grandes arsenais de boa disposição, inteligência, perspicácia e cultura geral, contribuem para que este país seja um pouquinho melhor, tornam a vida cá mais suportável (exagero...), dão motivos para rir, mas também nos ensinam muito (a mim pelo menos). Sempre achei que o humor inteligente é uma arma poderosa, útil e eficaz contra várias ameaças; já sabem, usem e abusem dele!!!!!!! A razão deste post vem aliás da minha mais recente visita ao "Alvim", onde me deparei com um texto, aliás vários, mas este em especial, que não posso deixar de partilhar com vocês...

Creio que o Fernando Alvim não levará a mal, pois publicar o post dele aqui é, no fundo, uma homenagem e também um pequeno, mas merecido, prémio.
Um grande "Saludo" para vocês e aqui vai:

"Os melhores" 6 de Março de 2008

Os melhores cantores são os bêbados, os melhores cabeleireiros são os larilas, os melhores taxistas são os que dizem “No tempo do Salazar é que era bom”, o melhor cigarro é o primeiro do dia, o melhor carteiro toca sempre duas vezes e uma delas é na nossa mulher, o melhor leitão é o da Mealhada, a melhor Miss foi a Helena Laureano mas já foi há muito tempo. Os melhores filhos são os nossos, os melhores pilotos são aqueles que já caíram uma vez ou outra mas sem importância, os melhores filmes nunca ganham os óscares, a melhor festa é sempre aquela a que não vamos, as melhores evasões são as fiscais. Os melhores árbitros são aqueles que conseguem roubar mesmo à frente do nosso nariz, as mulheres mais bonitas são sempre as dos outros, as melhores mercearias são as mais careiras, os alunos de maior talento são os que não estudam nadinha, os melhores políticos são os que se fazem aprovar tal qual uma lei.

Os melhores artistas são os que vivem na penúria, os maiores génios são os que obtiveram reconhecimento depois de morrer, a melhor notícia é a de abertura, o melhor do mundo foi o Pele. Os melhores momentos são aqueles que não estávamos mesmo a contar, o melhor do dia foi isto agorinha mesmo, o melhor orgasmo “desculpem mas não posso dizer!” a melhor caneta é aquela que não escreve no exacto instante em que precisávamos dela, o melhor lápis é aquele que desaparece no momento em que alguém do outro lado da linha nos diz “Quer apontar o número?” e nós do outro lado” Quero pois, estou só aqui à procura de um lápis que deve estar por aqui, é só um bocadinho se não se importa, porra para a porcaria do lápis que não aparece, oh querida viste o lápis? A melhor comida é a lá de casa, o melhor calor é o do Inverno, a melhor namorada foi a primeira, o melhor jogo foi aquele 6 a 3, a melhor fundação é a que faz lavagem de dinheiro, o melhor ladrão é o que rouba aos ricos para dar aos pobrezinhos, o melhor pudim- e agora cantemos todos juntos - "É pudim Danone! Não pares!Não pares!É pudim Danone!" - o melhor nariz é do Júlio Isidro, a melhor caldeirada é a que estamos metidos, o melhor número suplementar é o do totoloto, o melhor domingo é aquele em que passamos a ver filmes deprimentes deitados no sofá, o melhor tempo é o tempo da outra senhora, o melhor de tudo é termos saúde, a melhor série foi o verão azul, a melhor jornalista é a Clara de Sousa quando vem com uma saia curtinha, a melhor linha foi “Bingo!”.

A melhor mãe é a nossa, a melhor frase é aquela que nunca te disse, o melhor orvalho é o da manhã pela fresquinha, as melhores previsões meteorológicas eram as do Anthímio de Azevedo. Os melhores doces eram os da avó, a melhor canja é a de galinha, o melhor vizinho é aquele que só chama a polícia por volta das 2 da manhã, as melhores multas são as que são amnistiadas com a vinda do Papa, a melhor revolução foi o 25 de Abril, os melhores desenhos – com excepção da animação com bonecos de plasticina da Bulgária – eram os do Vasco Granja, a melhor aposta era a “ai que me esqueci de preencher o boletim!”, o melhor médico era o de família, as melhores compromissos são os inadiáveis, o melhor número será sempre o 115. O melhor partido é “aquela rapariga que é de boas famílias, filho!”, o melhor sindicalista foi o Torres Couto quando tinha bigode. A melhor noiva é aquela que chega mais de meia hora atrasada, o melhor aumento já foi há muito tempo, os melhores recibos são os verdes, o melhor da minha rua, sou eu.

Obrigado, Fernando Alvim!!!!!!!
(e Bruno Nogueira, Ricardo Araújo Pereira, Nuno Markl e Miguel Esteves Cardoso)

2 de março de 2008

Ganas de vivir...

Para uma bela tarde de Domingo rs, decidi ganhar finalmente coragem para pegar um filme que andava há imenso tempo para ver... "Mar Adentro"
Ora como esta semana Javier Bardem ganhou o Óscar de melhor actor secundário, pelo papel em "Ain't no country for old men", eu decidi ganhar finalmente coragem para ver o desempenho dele neste filme (brutal).

Se nunca o fiz antes foi por duas razões, primeiro porque não necessitava urgentemente de ser mais sensibilizado pela questão da eutanásia... Desde que me lembro que sou ferverosamente a favor da sua permissão, bem como do casamento de homossexuais ou , em geral, o aborto... Mas após o filme fico ainda mais incrédulo e renitente em aceitar que haja tanta gente que ainda não pense desta forma. Apesar de respeitar ;)

Por outro lado sabia que o filme era bom e muito "tocante"... Ora a mim os filmes sensibilizam-me sempre muito como já repararam; fazem-me pensar (e adoro isso). É que de certa forma, cada filme que vejo, como em abstracto cada coisa que fazemos, muda "uma migalha" de mim...
E essa mudança é sempre para melhor... E eu adoro isso, essas constantes mudanças (pequeninas) de mim sem deixar de ser o mesmo.
Nós podemos sempre melhorar nalguma coisa; ninguém é perfeito não é?
É por isso que tenho quase pavor a "agarrar-me" a algo, sobretudo a ideias fixas, a sentir-me preso, a ter compromissos(em sentido lato rs)...
Eu prefiro deixar correr a vida, ser levado por ela, sentir-me crescer e evoluir, pensar por mim próprio, mudar de opinião se tiver de ser. Só desta forma é que tudo isto que fazemos aqui, para mim, faz algum sentido!!!

Por isso, como já sabia que o "Mar Adentro" me ia fazer pensar muito sobre a questão, esperei o momento mais oportuno.

E agora que vi, tudo o que faço é recomendá-lo, e continuar a acreditar num futuro melhor, onde as pessoas tenham mais direito à vida, a uma vida boa e feliz, mas também direito a morrerem se assim quiserem...
Sonhador eu?
Na... Cada um com os seus "sonhos" e idiossincrasias... Cada um com a sua forma própria de viver com sentido, e ser feliz!!!!!!!!

Próximo capítulo: "1Semana em Bruxelas" (esperem-me na Quarta!!! :P)

Volto quando puder, de onde puder.

Beijos