8 de fevereiro de 2012

Comum exótico


Nada naquele dia de sol de inverno o faria prever um encontro imediato de terceiro, quarto e quinto graus, com ascenção ao nirvana, levitação transcendental e picos de delírio, motivada pelo simples facto de ter conhecido ... .

Mas aconteceu.
O edíficio de vários andares que, aos poucos, ele construíra nas suas duas décadas e meia de existência cedeu e ameaçou ruir à pasagem do furacão que dava pelo nome de .... . De repente, tudo estava em causa, porque o que demora séculos a ser criado pode terminar de repente. As nossas certezas, crenças, convicções, as nossas fundações e pilares, são mais frágeis do que parecem.

... era de um filme diferente. Não era personagem para aquele argumento.
Ela movia-se, e com um mero ajeitar de cabelo era capaz de prococar uma erupção. Era vulcânica, uma inocente provocadora, provocativa, ok, não era inocente...
Com aquele seu jeito exótico de ser, que o conquistava, ela podia pedir o mundo numa bandeja de ouro forrada a diamantes, contando que o pedisse com um sorriso. E assim funcionava com todo mundo, como aquelas pessoas que têm o dom de agradar e fazer boa figura em qualquer situação.

E acontecia.
Quando ela estava, acontecia... magia.
Eram chuvas, e depois sol, e relâmpagos e trovões e depois céu limpo. Era tempestade e bonança.

Mas ele também não era daquele filme. Ele não fora talhado para aquele papel. Ele recusara o amor, recusara vender-se, a quem quer que fosse, a que preço fosse. Mas estava agora com dúvidas.
Quando sempre pensara que não ia olhar para trás hesitou... e, no último instante, lançou-lhe um olhar. E foi com este olhar, que foi muito mais do que qualquer olhar imaginável por um mortal comum, que ele percebeu que tinha errado. Estava irremediavelmente rendido!!

Ele já magoara, já fugira. Ele já tinha evitado, negado e aniquilado muitos amores... Mas estava agora na posição de quem se deixa magoar, de quem vê fugir... Ele descobriu a claustrofobia naquele olhar, no primeiro olhar. Ele soube desde então que ia entrar num jogo em que só tinha a perder. Mas mesmo assim decidiu pagar o preço...
Ele sentiu-se palhaço, sentiu falhanço e dor, mas, faltando inspiração para uma história melhor, deixou-se ficar nesta, que não era suposto ser sua.

E se estranhava esta sua incursão por um mundo onde era estrangeiro, onde se sentia desconfortável, onde queria estar embora não quisesse ter entrado, pior ficou quando descobriu que caíra numa cilada.

O mundo vingava-se.
... não era quem ele vira.
... era qualquer outra coisa, tudo talvez, menos aquilo que ele julgara ver. Sempre que olhara, vira apenas uma coisa imaginada. Uma ilusão de óptica traíra-o.

Quando esfregou os olhos, e viu então ..., tudo começou: chorou e lamentou o seu erro, a má fortuna!!! Não valera a pena ter querido correr riscos, mas também não pensamos neles quando arriscamos.

E, no entanto, no auge do desespero pelo erro cometido, ele não pode deixar de reparar que, apesar de tudo, a situação era irreversível.
Não se pode apagar nada do coração. Pode acrescentar-se, mas nunca retirar... E então, se é certo que desde esse dia, passou a odiá-la um pouquinho mais, não é menos verdade que nem nesse dia, nem jamais, por toda a sua vida, passou a amá-la um pouquinho menos... Eu sei disso. Ele também.

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